Potencial Agrícola e Agronegócio

O agronegócio tem sido o salvador da pátria e da economia. Não fosse ele, a situação do país seria mais grave. No entanto, apesar desse sucesso, pode-se dizer que o país não conhece seu real potencial agrícola. Caso conhecesse, estaria planejando investimentos para aumentar a produtividade, gerar renda, empregos e aumentar a qualidade de vida da sociedade brasileira a curto prazo.

Um caso típico: o café. As projeções (MAPA) indicam aumento de produtividade e de produção passando de 25 sc/ha para 33 sac/ha e de 45,4 milhões de sacas para 62,4 milhões de sacas, de 2016 a 2026. Eles indicam crescimento de produtividade de 28% em dez anos. Apesar de positivos, não são nos alentadores. A passos de jabuti, se passarão dez anos para que se confirmem. Temos tecnologia para dobrarmos a produção em três anos com adoção de medidas que propiciem acesso à informação, linhas de crédito, serviço de extensão universalizado e capacitação em gestão para os empresários. Se somarmos a essa questão o fato de que hoje o país entrega cafés de qualidade como commodities para alemães, italianos e em breve também chineses, a conta do que deixamos de ganhar só piora.

Na horticultura, é possível detalhar esse cenário. Ela é um campo da agronomia que engloba a olericultura (hortaliças), a fruticultura e a floricultura. Comecemos pela fruticultura. Essa cadeia possui várias associações, mas pouca coesão para trabalhar de forma organizada e exportar algo próximo de nossos irmãos chilenos. O potencial climático brasileiro é como um mundo em miniatura: podemos produzir frutas de clima temperado e tropical para consumo e exportação. Mas não se vê uma proposta real sair do papel para tornar isso realidade. Em recente viagem à China foi possível verificar “in loco” em uma cidade no interior do país, próximo ao Nepal, uvas e maças americanas sendo comercializadas em frutarias e mercearias. Assim como tomates e pimentões vindos da Holanda para Xangai e Pequim.

Uva comercializada na China. Foto ABJ 2016.

Falemos então da olericultura, orfã de um ator que dê um norte aos empresários rurais desde a falência da Cooperativa de Cotia. Na outra ponta da cadeia vivem os supermercados que usam seu poder de negociação contra empresários rurais e consumidores. Aqui, abrimos um parêntese para falar do melão. Primeiro por ser produzido como olerícola e comercializado como fruta. Vale lembrar que ele é parente do pepino. Segundo porque boa parte de sua produção é exportada para a Europa, confirmando que oportunidades e competência, existem. Fica então a dúvida: se o melão chega até lá, porque não levamos também tomates, etc. para os europeus nas suas janelas de importação?

Finalmente, a floricultura. O setor cresceu ao menos 8% a.a. nos últimos 30 anos. Com crises ou não a Cooperativa Veiling de Holambra é o exemplo vivo, ficando atrás apenas de similares europeus. É a 4a cooperativa de flores em movimentação financeira no mundo. E mesmo assim não desperta a atenção para servir de exemplo organizacional a ser imitado e seguido pelas outras cadeias.

Expostos esses exemplos vem a pergunta: Porque inexistem políticas públicas arrojadas para desenvolver o agro? O prof. Paulo Cidade, da USP, que trabalhou até os 84 anos, pouco antes de falecer no final de 2016 disse: “Cada R$ 1 investido com recursos públicos em pesquisa, educação superior e extensão rural na agropecuária um retorno de R$10 a R$12 para a economia paulista.” Obviamente números parecidos serão encontrados se forem feitas pesquisas nesse sentido no resto do país. Além da falta de investimento, limitações com a cadeia do frio e com o seguro para uso de tecnologias como estufas para citarmos apenas dois gargalos.

Países de menor potencial, como Israel e Chile traçam metas e as perseguem. Agricultores israelenses não sabiam fazer a enxertia de um pé de abacate. Após identificar a oportunidade de exportar e alguns anos de trabalho, tornaram-se os principais fornecedores da variedade “fuerte”, própria para salada. Já no Chile, apesar das limitações de solo e clima, o país tem como meta ser um dos 10 maiores fornecedores de alimentos para o mundo. Resta então perguntar, quais são as metas do agronegócio no Brasil, saindo do arroz com feijão, ou melhor, da soja com milho?

 

Antonio Bliska Jr

Eng. Agrônomo pela Esalq – USP

Mestre e Dr. em Eng. Agrícola pela Feagri- Unicamp

Editor da Revista Plasticultura

Diretor do Comitê Brasileiro de Desenvolvimento e Aplicação de Plásticos na Agricultura

Pesquisador da Feagri- Unicamp

 

Texto publicado no Jornal Correio Popular em 23/01/2017, Campinas, SP.

Detalhe de embalagem com indicação de procedência dos EUA> Foto ABJ- China 2016.

Uvas americanas expostas em gondola de mercado na China. Foto ABJ- 2016.

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