O setor sucroalcooleiro é o maior do agronegócio brasileiro e vem desabando, cambaleando, e se arrastando.

O valor da cadeia do setor sucroalcooleiro brasileiro supera R$ 70 bilhões. Maior que o da soja, com R$ 50,5 bilhões. O ramo passa pela pior crise da sua história. No Estadão desta segunda feira, (8) a matéria sobre o calote de R$ 500 milhões de apenas um grupo, o Unialco, significa apenas um exemplo no meio de uma dívida das usinas, calculada em 110% do seu faturamento. Quer dizer, o setor deve mais do que o faturamento total acumulado de um ano.

Esse fator, associado à queda revolucionária do preço do petróleo no mundo, nos últimos 6 meses, desceram 40%. Por um lado com novas tecnologias tivemos um aumento na extração, onde somente os Estados Unidos ampliaram em 80% de 2008 até agora a sua produção. Fora isso, a alternativa do Xisto virá revolucionar ainda mais a energia barata.

O preço para o mercado futuro do barril de petróleo – dezembro 2015 – está na casa de US$ 40.00, imagine que estávamos num patamar de US$ 100.00 o barril. Então o que ocorreu? Incrível imaginar como a falta de planejamento e sensatez permitiu levar o setor sucroalcooleiro brasileiro a uma situação dessa.

Tivemos o subsídio à gasolina, pelo governo, para manter a inflação baixa, com várias declarações do ex-ministro Guido Mantega afirmando que esse era o alvo central e prioritário do governo. Enquanto isso ocorria, o petróleo estava caro, agora, para repor preços na gasolina, como fica, se o petróleo caiu 40%?

Além disso, tivemos problemas online casino climáticos, investimentos em tecnologia, explosão dos carros bicombustíveis, investimentos na cogeração de energia. Investimentos na colheita mecanizada para terminar com a queima da palha da cana, e, fora isso, preços das commodities medianas, não configurando momentos de alta, o que ajudariam a diminuir o prejuízo do setor, tanto em açúcar, quanto no etanol, tudo também vinculado a um cenário global de estagnação econômica.

Nascido do pro-álcool, quando o Brasil importava US$ 3,5 bilhões em petróleo, e agonizando hoje, quando importamos US$ 13 bilhões, o país precisa de uma agenda e de liderança no setor sucroalcooleiro:

1)O retorno da CIDE – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico sobre a gasolina, em níveis anteriores de R$ 0,28 por litro.

2)Reajuste do preço da gasolina, não apenas pelo etanol, mas para salvar a corrompida Petrobras.

3)Aumentar urgentemente a mistura do etanol anidro à gasolina para 27,5%, diminuindo a importação da gasolina em mais de 1,2 bilhão de litros por ano.

4)Melhorar a eficiência do etanol nos veículos flex e híbridos.

5)Efetivar a geração térmica com o bagaço da cana, e na sazonalidade complementando a geração hídrica de eletricidade.

6)Alongamento das dívidas, acumuladas nos últimos 5 anos…  Sine qua non.

7)Vender em acordos bilaterais a mistura de 10% de anidro na gasolina, para por exemplo a China e a Índia, o que abriria mercados de 15 e 3 bilhões de litros de etanol.

8)Integração comercial do açúcar no Mercosul.

Estes são os pontos viáveis, na questão sucroalcooleira nacional. A CIDE, aposto, já será a primeira de todas, urgente e imediata. Mas fica a pergunta: como pode, o maior setor em movimento financeiro e econômico do agronegócio brasileiro, chegar neste ponto? Vale, além das críticas justas ao governo, uma boa revisão autocrítica ao próprio setor. É grande demais para chegar nessa situação débil, pequena e cambaleante.

 

José Luiz Tejon Megido

  • Comentarista da Rádio Estadão;
  • Mestre em Educação, Arte e Cultura;
  • Doutorando em Ciências da Educação
    (Universidad deLa Empresa);
  • Professor de pós-graduação da FGV Incompany;
  • Dirigente do Núcleo de Agronegócio da ESPM;
  • Conselheiro fiscal do CCAS
    (Conselho Científico para a Agricultura Sustentável);
  • Ex-diretor da Agroceres, da Jacto S/A e do Grupo Estadão;
  • Conselheiro do Grupo Sérios;
  • Conselheiro Estratégico da Câmara Agrícola Lusófona (de Portugal);
  • Autor e coautor de 32 livros;
  • Palestrante Prêmio Top of Mind Estadão RH;
  • Top 100 do Agronegócio Revista ISTO É – Dinheiro Rural

 

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