Sistema de cultivo inovador é testado no Brasil
Esta matéria foi publicada na edição 41 de março-abril da Revista Plasticultura.
Aqui apresentamos as imagens publicadas e mais fotografias geradas do período em que a matéria foi produzida, de outubro passado, ainda em 2014 até maio de 2015.
Três empresários de Holambra estão utilizando um novo conceito de manejo da cultura: a irrigação por inundação em cultivo sem solo. São os pisos de cultivo, sistema que foi desenvolvido na Holanda e trazido ao país pela empresa ErfGoed. A seguir foto em área de produção de lírios.
Na empresa Terra Viva o sistema está em uso em uma área de cultivo de antúrios em vasos. Na mesma estufa é possível fazer uma comparação direta com a irrigação localizada, do tipo “macarrão”. Já o empresário Jan de Witt, um dos maiores produtores de lírio do Brasil, inaugurou uma área totalmente nova, desde a estufa ao sistema de piso cultivado, com 14.000 m2. E no cultivo de Kalanchoe e Calandiva, também com uma estrutura totalmente nova, a Agropecuária Peeters está trabalhando em um projeto de expansão que vai atingir 6 ha. Para melhor ilustrar e facilitar a compreensão do funcionamento do sistema, a Revista Plasticultura acompanhou durante vários meses, todo o processo de instalação do sistema de piso cultivável na área em expansão até o início do cultivo, já visando as vendas de flores para o dia das mães.
A ideia, que utiliza o convencional sistema de irrigação por inundação, aplica diferentes conceitos de manejo, para aproveitar o melhor de cada um deles quanto à disponibilização de água para o sistema radicular das plantas, fertilidade e reutilização da água. De forma indireta, é possível também atuar na temperatura do sistema radicular, pelo resfriamento do piso, e ainda na própria umidade relativa do ar ambiente. Um bom “piloto” de estufa pode acionar o sistema irrigando durante o dia ou à noite, influindo também na temperatura ambiente, pois estará trabalhando não somente com fluxos de água, mas também com fluxos de energia.
Ao invés de ser um simples dique ou tabuleiro de contenção de água, como visualizamos na clássica utilização da inundação em arrozais, o sistema de piso cultivável parte de um espaço poroso, abaixo das plantas, preenchido com pedras e recoberto com uma manta plástica permeável. Na verdade, a concepção e construção do piso de cultivo envolve tecnologia de engenharia de alta precisão, com declividade e nivelamento visando ao perfeito fluxo e escoamento da água e uso de múltiplas camadas de materiais semipermeáveis, como mantas não tecidas, camadas anticondensação e ráfia de solo, além da pedra britada, até a total impermeabilidade no fundo do piso. No total, o piso é composto por seis camadas de diferentes materiais.
O equipamento de terraplanagem, um trator de seis rodas e uma lâmina traseira especial, sem similares no Brasil, foi trazido da Holanda. Trabalha com um sistema de telemetria a laser e precisão de 1 mm/300 m e é operado por tratorista e técnico de instalação, ambos holandeses.
O espaço poroso permite a rápida inundação das seções que se deseja irrigar e uma drenagem mais rápida ainda quando se reverte o fluxo de água. Como a inundação se dá pelos poros do espaço abaixo das plantas, a distribuição da água ocorre de maneira simultânea e homogênea. Todas as plantas recebem a mesma quantidade de água e nutrientes. Toda a operação leva apenas 20 minutos.
Por ser um sistema fechado, isto é, de reutilização da água, há grande economia de fertilizantes, além da própria economia de água. Na verdade, toda a água não absorvida pelas plantas ou transpirada pelos vasos, é reaproveitada. O elemento poroso e a malha plástica permeável trabalham como um filtro, não havendo necessidade da instalação desses elementos no sistema hidráulico. Quando necessário, um filtro com luz U.V. (Ultravioleta) pode ser acoplado. Na produção de lírios visitada pela Revista Plasticultura, o empresário Jan de Wit injeta KCl (Clorteto de Potássio)na água para desinfecção do piso e da própria água do sistema. Outra opção, dependendo também da cultura trabalhada, é a injeção de hipoclorito de sódio, menos volátil que o KCl.
O controle da água e da solução nutritiva pode ser feito com um bom sistema de sensores. Assim, o controle da condutividade elétrica e do pH da solução nutritiva podem ser facilmente automatizados, bem como a injeção de nutrientes.
As plantas, cultivadas em contentores ou vasos, com substratos apropriados, recebem o aporte de água de maneira tão controlada que é possível estabelecer o limite máximo de inundação de maneira a não haver água livre no colo da planta. Pode parecer preciosismo, mas isso reduz a incidência de doenças e consequentemente, do uso de agroquímicos. Por sua vez, representa menor dispêndio de mão de obra. Pythium e Phytophtora, problemas patogênicos frequentes no cultivo em estufa, tem sua incidência reduzida nestas condições.
Outra grande vantagem é a facilidade de mecanização da produção, uma vez que tratores ou empilhadeiras podem circular sem restrição sobre os pisos de cultivo, desde que equipados com pneus especiais, de borracha e de baixa pressão. Dessa forma, o conceito de cultivo intensivo é potencializado, visando ao menor tempo de permanência da planta em ambiente protegido com a maior produtividade por m2 possível. O espaço de corredores também é reduzido de forma a explorar a máxima metragem da estufa.
No cultivo de lírios, o ciclo normal de 42 dias foi reduzido em 3 dias, provavelmente devido à maior temperatura do sistema radicular em contato com o piso de cultivo, o que, em um ano representa ganho de 15 dias no giro da estufa. Ainda com relação à colheita, devido à maior uniformidade do estande da cultura, agora é feita em apenas duas etapas, e não três como anteriormente. Dependendo da espécie cultivada, o ciclo pode ser reduzido em até 20%. A área total de produção é de 4,5 ha com 47 colaboradores, mas com o novo sistema será possível reduzir a mão de obra em 10% a 15%.
Na empresa Terra Viva, em cultura de antúrio, foi possível avaliar uma floração mais intensa e uniforme, além da redução da mão de obra.
Fora do Brasil, o sistema vem sendo utilizado em outras culturas como thuias, hortênsias, crisântemos e poinsétias entre outras.
Engenheiro Agrônomo Antonio Bliska Júnior – LCA/Feagri, Unicamp
bliskajr@feagri.unicamp.br