A supersafra do ministro

Em manchete de jornais da semana que passou, a fala do ministro da agricultura foi destaque. “Safra recorde está indo ‘para o ralo’, diz Maggi”. Causa espanto que alguém que é “do ramo”, como nosso ministro o é, esperar a tragédia anunciada se concretizar e depois lamentar em tom de impotência. A BR 163, que escoa grande parte da produção do Mato Grosso e todo ano se transforma em pátio de estacionamento de caminhões é mais uma vez a vilã da estória. Aonde estão as novidades dos fatos? A safra recorde foi estimada há meses, e devidamente alardeada pelo governo. Deficiências de infra estrutura logística, tais como a falta de estradas e ferrovias para escoamento, estruturas de armazenamento e portos devidamente equipados são conhecidas até por alunos de ensino médio.

Tecnologias e soluções baratas disponíveis, como armazenamento em silos de plástico, os chamados “silos bolsa” que nossos vizinhos argentinos utilizam em mais de 70% de sua safra, não são adotadas de forma efetiva no Brasil. Cabe então perguntar: desde que tomou posse, que medidas foram tomadas para se prevenir a repetição de fatos conhecidos por todos há mais de década? Aonde está o planejamento de alguém que ocupa a cadeira mais importante do único segmento da economia que ainda impulsiona o país para frente?

Silo Bolsa no cerrado brasileiro – 2015 FOTO ABJ

Calcula-se que aproximadamente 40% da safra “recorde” não tenha aonde ser estocada. As escolas de agronomia, cito aqui a ESAL (MG) que trabalha com o tema da armazenagem de grãos em Silos Bolsa há muitos anos, e outras instituições de pesquisa, possuem técnicos competentes e conhecimento dessas tecnologias de baixo custo que podem ser aplicadas imediatamente. A indústria brasileira possui capacidade instalada, e ociosa no momento, para produzir silos de plástico em quantidade suficiente para atender a demanda dos empresários rurais. Cabe aqui ressaltar que essa não é uma solução paleativa ou um tapa buracos. Em anos passados a mídia apresentou, de forma equivocada, a tecnologia de armazenagem em Silos Bolsa como algo emergencial. Como pode um sistema de armazenagem que permite a estocagem em perfeitas condições, por mais de um ano, ser considerado emergencial? O uso dessa tecnologia moderna difere do armazenamento em silos metálicos. Em primeiro lugar permite ao empresário armazenar sua safra, sem riscos, na própria propriedade. Além de ser competitiva economicamente, do ponto de vista operacional, ela permite ao empresário rural aguardar o melhor momento de comercialização fugindo das especulações do mercado comuns no momento da colheita da safra. Mas estas informações, bem como os detalhes técnico operacionais do uso dos Silos Bolsa precisam ser levados a campo aos empresários rurais, sem mistificações. Para isso, mais uma vez, faz-se necessária uma atuação séria do Ministério da Agricultura, com extensionistas devidamente capacitados e treinados.

Será muito pedir ao ministro a elaboração de algo, para atuar em escala nacional, como um Plano de escoamento escalonado dos grãos? A falta de planejamento estratégico e liderança para buscar alternativas e soluções, organizar e implementar ações corretivas ou até mesmo emergenciais, não pode seguir sendo a regra de governos que apenas “torcem pelo agronegócio” e “rezam para São Pedro”. O ideal seria ter o famoso Plano B à mão. Mas pelo visto não temos sequer o Plano A.

Antonio Bliska Júnior

Engenheiro Agrônomo, Dr. Engenharia Agrícola

Pesquisador Feagri-Unicamp

Vice-presidente do Comitê Brasileiro de Aplicação de Plásticos na Agricultura- COBAPLA

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